Silencioso, progressivo e desafiador. O diabetes, que tem registrado taxas de incidência cada vez maiores pelo mundo, vai além do controle do açúcar no sangue. É uma jornada diária de cuidados, disciplina e, muitas vezes, desafios.
Celebrado em 14 de novembro, o Dia Mundial do Diabetes é uma oportunidade anual para conscientizar a sociedade sobre a importância da prevenção, do diagnóstico precoce e do manejo adequado da doença. A data foi criada em 1991 pela Federação Internacional de Diabetes (IDF). Em 2006, a Organização Mundial da Saúde (OMS) oficializou a ação e, juntas, as entidades definiram um círculo azul como o símbolo da iniciativa.
A forma geométrica representa a união de esforços para lidar com o diabetes, e a cor azul reflete o céu que une todas as nações e a cor da bandeira das Nações Unidas. Com isso, todo o mês ficou conhecido como Novembro Azul, que acabou, posteriormente, se juntando à campanha sobre o combate ao câncer de próstata.
A cada ano, o Dia Mundial do Diabetes adota um tema específico. Para o triênio 2024-2026, definiu-se o bem-estar como foco geral (veja no box abaixo). Em 2025, o mote oficial é “Diabetes e Bem-Estar no Trabalho”. A campanha é a maior iniciativa global relativa à doença e engaja, em média, 1 bilhão de pessoas em mais de 160 países.
Entenda o diabetes
O diabetes mellitus é uma doença caracterizada pela produção insuficiente ou má absorção de insulina, define o Ministério da Saúde. Produzida no pâncreas, a insulina é o hormônio que metaboliza o açúcar/glicose no sangue, transformando-o em energia para o funcionamento celular.
A falta de insulina ou ação deficitária resulta em hiperglicemia, níveis elevados de açúcar no sangue, condição danosa à saúde quando mantida por um longo período. O diabetes pode se apresentar em diferentes modalidades, sendo as mais comuns: tipo 1 (DM1); tipo 2 (DM2); gestacional e diabetes latente autoimune do adulto (Lada).
No DM1, que surge em pessoas geneticamente predispostas, o sistema imunológico destrói as células do pâncreas responsáveis por produzir insulina. Esse ataque resulta na liberação insignificante ou nula do hormônio, o que impede que a glicose seja metabolizada e gera a hiperglicemia.
Os sintomas, bastante evidentes, servem como alerta: urina noturna frequente e volumosa, sede intensa e perda de peso inexplicável, mesmo com a ingestão normal ou aumentada de alimentos.
Embora seu diagnóstico seja mais comum na infância ou adolescência, o DM1 também pode se manifestar em adultos. O tratamento é obrigatoriamente baseado na aplicação de insulina, combinada com controle dietético e exercícios físicos. Não há cura e, por ser autoimune, nem prevenção.
Categoria mais comum, no DM2 acontece a resistência à insulina, quando o organismo não consegue responder adequadamente ao hormônio. Como não ocorre a metabolização da glicose, os níveis dela no organismo continuam a aumentar, o que provoca a liberação de mais insulina ainda e a possibilidade de que o pâncreas seja levado à exaustão. Nessa hipótese, o órgão produz menos o hormônio e a glicemia se eleva progressivamente.
O desenvolvimento do tipo 2 está diretamente associado a fatores como sobrepeso, sedentarismo, triglicerídeos elevados, hipertensão e alimentação inadequada. As alterações na dieta e na atividade física relacionadas a fatores sociais são consideradas pela IDF como responsáveis pelo aumento do número de pessoas com DM2.
Em muitos casos, a condição pode ser prevenida ou ter a sua progressão e danos controlados. É fundamental ter acompanhamento regular por profissionais de saúde qualificados para tratar não apenas o diabetes, mas também outras condições que frequentemente surgem em conjunto.
O Lada, conhecido também como diabetes 1,5, mescla características dos tipos 1 e 2. A variedade é autoimune, principal semelhança com o DM1, costuma se desenvolver principalmente em adultos a partir de 30 anos e progride de forma lenta, o que a aproxima do DM2. Além disso, a semelhança com o tipo 2 também reside no fato de que, inicialmente, a insulinoterapia não é necessária e o Lada pode ser tratado com mudanças no estilo de vida e medicamentos orais.
Por fim, o diabetes gestacional é uma condição temporária que ocorre durante a gravidez. Há glicemia elevada, porém inferior a do DM2. Segundo o Ministério da Saúde, atinge de 2% a 4% das mulheres. Requer exames regulares, monitoramento constante no pré-natal, mudanças na dieta e exercícios físicos moderados. Em alguns casos, medicamentos podem ser prescritos. Se não tratado, esse tipo eleva o risco de complicações na gestação, no parto e de diabetes futuro para mãe e filho.
Em todos os casos, é essencial consultar um profissional de saúde para que se identifique corretamente a doença, a partir de exames, e se definam as estratégias para o cuidado. Um diabético pode ter uma vida longa e saudável, mantendo sua glicemia sob controle. No entanto, se a síndrome metabólica não for tratada, pode causar sérios danos à saúde, incluindo complicações neurológicas, oculares, renais e nos membros inferiores, além de aumentar o risco de acidente vascular cerebral (AVC) e infarto.
Cenário global
Segundo dados da IDF, há 589 milhões de pessoas diabéticas no mundo, e aproximadamente 50% delas podem não saber que têm a doença. A projeção é que a quantidade de diabéticos suba para 852 milhões até 2050.
No Brasil, a população com a doença já é de cerca de 20 milhões de pessoas, 10,5% do total nacional, conforme estimativas da Sociedade Brasileira de Diabetes (SBD) com base em dados do Ministério da Saúde, do Censo 2022 e da IDF. Trata-se do sexto país no ranking global e primeiro colocado entre toda a América Latina.
Ainda de acordo com a SBD, a DM1 corresponde a 600 mil dos casos no Brasil, o equivalente a 3%, taxa considerada alta para os padrões internacionais. A entidade aponta que a incidência vem crescendo nos últimos anos. No caso da variedade autoimune, como não há prevenção, o cenário reforça a importância do diagnóstico ainda nos estágios iniciais e da garantia do acesso amplo ao tratamento.
Consequentemente, a maioria das ocorrências é de DM2, panorama que corresponde à realidade das demais nações. O resultado pode ser justificado por fatores como falta de atividade física; maus hábitos alimentares; sobrepeso e obesidade; histórico familiar e envelhecimento populacional.
Cuidados
Para receber tratamento para diabetes pelo Sistema Único de Saúde (SUS), o primeiro passo é buscar a Unidade Básica de Saúde (UBS) mais próxima. Lá, tem-se acesso ao atendimento inicial, o qual inclui diagnóstico, acompanhamento médico contínuo e orientações para receber insumos e remédios de graça. Caso necessário, a própria UBS encaminha os pacientes para atendimentos na rede especializada.
O Programa Farmácia Popular disponibiliza, gratuitamente, uma série de medicamentos para o tratamento do diabetes. Saiba mais informações clicando aqui. Em Goiás, a Central Estadual de Medicação de Alto Custo Juarez Barbosa também distribui diversas medicações, conforme as particularidades dos tipos da doença. Confira aqui a lista e as condições para o acesso. Qualquer pessoa com diabetes, da rede pública, privada ou suplementar, tem acesso garantido a esses medicamentos mediante o cumprimento dos respectivos requerimentos.
A SBD destaca que propiciar a educação em diabetes é primordial tanto para os diagnosticados quanto para a sociedade em geral. No caso dos pacientes e de famílias, é uma forma de capacitar para o manejo adequado, para os demais, impulsiona-se a conscientização.
Diabetes e trabalho
O tema definido pela IDF para a edição de 2025 do Dia Mundial do Diabetes diz respeito à vivência das pessoas diabéticas no mercado de trabalho. A entidade aponta que sete a cada dez diabéticos estão em idade ativa. Desses, 40% relatam terem sido discriminados no local de trabalho devido à sua condição. Entre os que têm o DM1, 46% confirmaram a discriminação, taxa que cai para 36% entre os DM2.
Conduzida em cinco continentes, a pesquisa verificou também que o manejo do diabetes é uma fonte de ansiedade quando precisa ser realizado no ambiente de trabalho. As principais dificuldades informadas foram a aplicação de insulina e checagem dos níveis de açúcar no sangue.
No ambiente laboral, completa a IDF, as pessoas diabéticas enfrentam desafios como o estigma, a discriminação, a exclusão, a ansiedade e a falta de acesso a cuidados e apoio para o seu bem-estar. Assim, além das tradicionais causas, este ano, a campanha convoca os empregadores a tomar medidas para criar um ambiente de trabalho seguro, acolhedor e saudável para as pessoas com diabetes e para as pessoas em risco.
Em pauta na Casa
A Assembleia Legislativa de Goiás assina embaixo do compromisso coletivo necessário às causas das pessoas diabéticas do Estado. Além de projetos de lei, os deputados propõem ações diversas. Durante todo o mês de novembro, a fachada da Casa estará iluminada em azul, para marcar os meses de conscientização sobre o diabetes e sobre o câncer de próstata.
Outro exemplo é a solenidade realizada no dia 11 deste mês, para reconhecer o esforço dos pacientes e das pessoas e entidades que fazem a diferença na vida daqueles que têm o diagnóstico. A iniciativa foi do deputado Gustavo Sebba (PSDB) e a sessão contou com a participação do presidente do Parlamento, Bruno Peixoto (UB).
Na oportunidade, Peixoto explicou porque quis participar do momento solene, lembrando que seu pai convive com a doença há 20 anos, e seu irmão Adriano faleceu em decorrência de complicações da doença. “Ele não percebeu a gravidade da situação, não realizava o controle diário e, acreditando estar com a glicemia baixa, sofreu um desmaio. Essa experiência reforça a necessidade de conscientizar a população sobre a importância da prevenção e do controle do diabetes.”
Por sua vez, Sebba, que é presidente da Comissão de Saúde da Casa, reforçou: “Mais do que números e dados, estamos falando de pessoas. E é nossa obrigação, como representantes do povo, garantir qualidade de vida e acesso ao tratamento”.
Mais uma manifestação do cuidado da Assembleia Legislativa de Goiás relativa ao tema foi o apoio do deputado Anderson Teodoro (Avante) ao Mutirão do Diabetes de Águas Lindas de Goiás. O evento ofereceu exames de fundo de olho gratuitos a 500 pessoas diabéticas.
Propostas legislativas
Há uma série de propostas tramitando no Parlamento goiano que visam à criação de novas leis para auxiliar nos cuidados com o diabetes. A distribuição gratuita de sensores de monitoramento contínuo de glicose (MCG) é o tema de mais de um dos projetos.
O dispositivo permite a monitorização ininterrupta dos níveis de açúcar no sangue de forma mais prática e menos invasiva, por meio de um aparelho ou por um smartphone, de forma indolor e simples. Por se tratar de uma tecnologia nova e, como há poucas opções disponíveis no mercado, ele é vendido por valores a partir de R$ 299,90.
Primeiro a abordar a questão, Paulo Cezar Martins (PL) sugere o referido benefício para crianças e adolescentes (processo nº 11399/25). Na justificativa, ele afirmou que estudos clínicos e diretrizes de entidades médicas demonstram que o uso do MCG contribui para prevenir complicações crônicas da doença. Os deputados André do Premium (Avante) e Gustavo Sebba fizeram sugestões correlatas.
Outras propostas incluem, por exemplo, a garantia do cuidado preventivo de complicações e direitos durante a realização de concursos e provas.
Fonte: Portal da Alego
