O setor de eventos corporativos acredita que as características do segmento vão garantir um retorno significativo às atividades em breve. No entanto, cobra do Congresso Nacional garantias para que isso aconteça. Representantes do setor participaram de audiência pública da Comissão de Desenvolvimento Regional do Senado (CDR) nesta segunda-feira (17).
Segundo a União Brasileira de Feiras e Eventos de Negócios (Ubrafe), o Brasil movimentava, antes da pandemia de covid-19, mais de 2 mil eventos em 52 áreas da economia. A estimativa é que a indústria movimentava cerca de R$ 1 trilhão. O Ministério do Turismo calcula que o setor foi o segundo mais afetado pela pandemia (atrás apenas do setor de entretenimento). Segundo dados apresentados pela pasta, o volume de viagens a negócios chegou a despencar mais de 90% no segundo trimestre de 2020, no início da crise.
Apesar do cenário, o retorno a um calendário de eventos é encarado como natural, uma vez que os riscos sanitários entrem em declínio. Para Gervásio Tanabe, presidente-executivo da Associação Brasileira de Agências de Viagens Corporativas (Abracorp), as empresas e os profissionais envolvidos com essas atividades precisam do aspecto presencial.
— Temos convicção de que os eventos corporativos vão retornar. Até que ponto o uso de plataforma virtual faz com que o funcionário reconheça valores da empresa? Num processo de venda, será que vou conquistar o cliente online, ou seria melhor ir até a sua cidade? O “olho no olho” é muito mais positivo. O comportamento da realização de um negócio não vai deixar de existir.
O secretário nacional de Desenvolvimento e Competitividade do Turismo do Ministério do Turismo, William França, disse concordar com essa avaliação, mas salientou que o processo de retomada se estenderá, pelo menos, pelos próximos dois anos, e que, mesmo depois disso, os eventos devem se preparar para uma nova realidade.
— Teremos que redesenhar o setor. Uma redução definitiva de 35% é estimada. Talvez tenhamos que conviver com eventos híbridos por um bom tempo.
No entanto, além do aspecto profissional, há necessidades legais que pressionam pela volta às reuniões e às conferências tradicionais. Fatima Facuri, presidente da Associação Brasileira de Empresas de Eventos (Abeoc), disse que a perspectiva de eventos corporativos predominantemente virtuais não é viável.
— [Esse modelo] é importante para geração de conteúdo, mas não para fazer negócio. Vimos eventos prontos sendo desmontados. Não estamos falando apenas de uma retomada; são eventos contratados que precisam ser entregues. Senão vamos terminar não só quebrados como processados.
Os representantes setoriais cobraram o avanço da vacinação e um incremento da testagem, para conferir segurança e previsibilidade aos eventos. Nesse contexto, foi feito um pedido ao Congresso Nacional para que seja estabelecida uma norma federal única de retomada de atividades econômicas a partir de percentuais de imunização da população.
Doreni Caramori Júnior, presidente da Associação Brasileira dos Promotores de Eventos (Abrape), explicou que essa iniciativa permitiria fechar, desde já, contratos para a realização de feiras e congressos corporativos no futuro, quando as condições permitirem. Por enquanto, os possíveis contratantes desses eventos estão inseguros quanto à realização efetiva e preferem não concretizar o negócio.
— O impacto no setor não se faz apenas pela paralisação, mas também pela incerteza sobre quando poderemos retornar. Se os eventos já puderem ser vendidos, o recurso vai dar condição para o empreendedor ficar vivo até lá. Essas são medidas que nos tirariam um custo enorme de convencimento e negociação.
Essa situação foi ilustrada por Danielle Novis, superintendente da fundação de promoção ao turismo Maceió Convention & Visitors Bureau, de Alagoas. Segundo ela, há um calendário de eventos represados porque as pessoas estão inseguras. Ela vê um retorno aos patamares pré-pandemia apenas em 2024.
William França, do Ministério do Turismo, propôs que o segmento de eventos corporativos explore o roteiro previsto para o turismo em geral e explore as possibilidade de mais eventos ao ar livre, ou em localidades “alternativas” como praias e parques. Esses lugares continuarão sendo os mais propícios para reuniões de grupos, segundo ele.
Armando Campos Mello, conselheiro da Ubrafe, ressaltou que esse aspecto poderá ter uma transição tranquila: 1.200 das 2 mil feiras no radar da entidade são do agronegócio e já são usualmente realizadas ao ar livre. Já Gervásio Tanabe, da Abracorp, salientou que esse tipo de novidade abrirá uma oportunidade para descentralizar o circuito de eventos, hoje muito concentrado nas regiões Sul e Sudeste.
O presidente da Comissão de Desenvolvimento Regional do Senado (CDR), senador Fernando Collor (Pros-AL), destacou que o setor de turismo, como um todo, tem grande impacto positivo para o conjunto da economia (pela movimentação do setor de serviços e capacidade de geração de empregos relativamente imediata) e é sensível a estímulos, de modo que se apresenta como “pedra de toque” da recuperação econômica nacional. Ele recomendou que os participantes da audiência e o governo federal promovam inovações, com a criação de novos produtos e o estudo das experiências de países que já se encontram em estágio mais avançado na mitigação da pandemia.
A reunião desta segunda-feira foi a segunda do Ciclo de Debates sobre Turismo, que a CDR iniciou no último dia 10. As audiências são semanais, sempre às segundas-feiras.
Agência Senado (Reprodução autorizada mediante citação da Agência Senado)
Fonte: Agência Senado