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Irã executa um jornalista oposicionista acusado de incentivar os protestos contra o regime

O Irã executou neste sábado Ruhollah Zam, um jornalista oposicionista refugiado na França capturado pela Guarda Revolucionária no ano passado em uma operação. “O diretor da rede contrarrevolucionária Amadnews foi enforcado nesta manhã”, anunciou a televisão estatal. O ativista foi condenado à morte em junho sob a acusação de fomentar a violência durante os protestos populares de três anos atrás.

“Sua execução é um golpe mortal à liberdade de expressão e mostra até onde são capazes de chegar as autoridades iranianas para infundir medo e dissuadir a dissidência”, denunciou Diana Eltahawy, vice-diretora regional para o Oriente Médio da Anistia Internacional (AI). A organização chamou de “injusto” o julgamento porque Zam, de 48 anos, não teve direito a um advogado de sua escolha. A Anistia revelou que o réu e sua família (que o visitou na sexta-feira na prisão) não foram informados do iminente cumprimento da pena.

O Tribunal ratificou sua sentença há apenas quatro dias. A televisão justificou a rápida execução pela “gravidade de seus crimes”. A França e vários grupos de direitos humanos condenaram a decisão. O grupo de defesa da liberdade de expressão Repórteres Sem Fronteiras (RSF) também reprovou o enforcamento de Zam. “O RSF expressa sua indignação por este novo crime da justiça iraniana e considera o líder supremo, o aiatolá Ali Khamenei, como o responsável por essa morte”, tuitou.

Filho de um clérigo reformista, Zam dirigia do exílio o Amadnews, um canal de notícias com difusão no Telegram que fundou em 2015 com outros colegas e que conseguiu ultrapassar um milhão de seguidores. De suas origens, publicou informação sem censura, incluindo vazamentos de fontes oficiais anônimas. Mas foi durante os protestos que explodiram no final de 2017 que a popularidade do canal atraiu a atenção das autoridades. Seu fechamento em 2018, por supostamente incitar a violência, serviu somente para que reaparecesse com outro nome e um número maior de seguidores.

A detenção de Zam foi divulgada em outubro de 2019 como um grande feito dos serviços de espionagem da Guarda Revolucionária, o exército ideológico que se transformou no verdadeiro poder no Irã. Disseram que o haviam “prendido” como resultado de “uma complexa operação de engano” sem informar local e data. O jornalista transformado em ativista havia se autoexilado na Europa após ser preso por participar dos protestos pela reeleição de Mahmoud Ahmadinejad em 2009 e obteve asilo político na França.

Na semana passada a Nur News, uma agência de notícias ligada à Guarda Revolucionária, revelou que Zam “foi enviado ao Irã” do Iraque, para onde viajou em setembro de 2019, confirmando um persistente rumor desde que sua prisão foi conhecida. A Guarda o acusou à época de trabalhar “sob a direção dos serviços secretos franceses” e com “o apoio” das agências de espionagem dos Estados Unidos e Israel.

Refratário à menor crítica, o regime islâmico acusa sistematicamente os Estados Unidos e os opositores no exílio dos surtos de revolta que periodicamente assolam o país. As autoridades chamaram de “sedição” as manifestações contra a carestia da vida que se espalharam por numerosas cidades iranianas entre 28 de dezembro de 2017 e 3 de janeiro de 2018, em que 20 pessoas morreram, de acordo com números oficiais. Apenas um ano depois, a repressão dos protestos contra o aumento do preço da gasolina causou três centenas de mortes, segundo a Anistia.

No Irã, além de castigar o assassinato, o estupro, o sequestro e o terrorismo, se utiliza também contra os dissidentes políticos frequentemente sob acusações tão imprecisas como “fazer guerra a Deus” e “espalhar a corrupção na terra” (fasad fil arz), a figura da lei islâmica aplicada a Zam.

Nos últimos anos, a República Islâmica teve a questionável honra de ser o país com mais execuções per capita, somente superado em números absolutos pela China. Na primeira metade de 2020, as organizações dos direitos humanos contabilizaram 136. Em outubro, a Nobel da Paz iraniana Shirin Ebadi apoiou uma campanha pedindo o veto da participação de seu país nas competições internacionais após a execução de um campeão de luta, Navid Afkari, de 27 anos, que protestou contra o regime islâmico.

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