Nas duas primeiras mesas de debate do Conecta CLDF: Comunicação 360º desta quarta-feira (6), especialistas discutiram a comunicação comercial e o uso da inovação no combate à desinformação, tanto na televisão quanto nos portais de notícia.
A mesa com enfoque na televisão inaugurou os debates. O jornalista, cientista político e psicólogo João Camilo, que atua na área de Relações Institucionais e Assuntos Regulatórios do SBT, sugeriu iniciativas que, em sua visão, poderiam fortalecer o combate à desinformação. A primeira delas é que haja maior cobrança por parte do Estado com relação às plataformas digitais, no sentido de garantir mais transparência e responsabilização desses entes privados.
“Os veículos provenientes das plataformas quase não têm regulamentação. Há um controle muito mais rígido na divulgação das TVs. O combate à desinformação passa pela transparência e responsabilização de emissores em qualquer meio que seja”, ponderou Camilo.
O cientista destacou, porém, que a regulamentação de redes não deve ser confundida com censura. Outro mote defendido por ele é o do papel do jornalismo profissional como atividade fundamental para o enfrentamento da desinformação. Contrapondo uma visão atual que descredibiliza o profissional de imprensa, ele acredita que o jornalista é cada vez mais relevante diante do cenário atual.
Para o mediador da mesa, o professor da Universidade Católica de Brasília (UCB) Leandro Rolim, é urgente que se fomente um processo de “letramento midiático” da população, em especial crianças e adolescentes, para que esse público não esteja vulnerável às “armadilhas” que podem estar embutidas no conteúdo que consomem livremente em suas redes. “Nossos adolescentes e pré-adolescentes são também produtores e consumidores de conteúdo. E para que eles não se tornem adultos vulneráveis à desinformação, é essencial nós cobrarmos das nossas escolas a educação midiática”, afirma Rolim.
Na sequência, Roberto Munhoz, diretor de jornalismo da Record TV Brasília, lembrou que a televisão está próxima de entrar em sua fase 3.0, que combina transmissão de alta qualidade com tecnologias avançadas, o que garantirá uma experiência personalizada e com maior qualidade de imagem e som ao telespectador. A nova fase da TV, para ele, enseja um debate mais aprofundado sobre seu papel no combate à desinformação, uma vez que ela será ainda mais integrada à internet.
O jornalista defende o conceito tradicional da ética jornalística como norteadora na luta contra a desinformação. “A questão ética tem que se sobrepor. É triste ver conteúdo jornalístico sendo deturpado, ganhando views e sendo produzidos com intenção de gerar cliques ao invés de serem produzidos com a intenção de informar”, lamentou.
Checagem de informações
Rodrigo Orengo, diretor de jornalismo da Band Brasília, mencionou ações de sucesso ligadas ao combate das fake news. Uma delas é o Projeto Comprova, uma iniciativa colaborativa e sem fins lucrativos liderada pela Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji) e que reúne jornalistas de 42 veículos de comunicação para descobrir, investigar e desmascarar conteúdos suspeitos sobre políticas públicas, eleições, saúde e mudanças climáticas compartilhados nas redes sociais.
Apesar de as agências de verificação de notícias falsas serem vistas como um fenômeno recente no contexto das fake news, Orengo explica que a checagem é um dos conceitos basilares mais antigos no mundo jornalístico. Na segunda mesa do dia, a colunista do Metrópoles Isadora Teixeira detalhou o Projeto Comprova no escopo do portal no qual trabalha. No veículo, os jornalistas fazem dupla checagem de conteúdos que repercutem nas redes sociais. A interface dessa apuração no site indica se o conteúdo é verdadeiro ou falso, explicita o número de pessoas alcançadas pela informação de origem e detalha as fontes consultadas pelos repórteres.
Também com o suporte web, o diretor de Inovação do Poder360, Miguel Gallucci Rodrigues, apresentou o Poder Monitor, ferramenta agregadora de dados dos três poderes, com documentos na íntegra e interface simplificada. O jornalista e advogado defendeu que, desse modo, o cidadão tem mais lastro da informação que consulta. “Em um ambiente onde as notícias falsas influenciam percepções e decisões diariamente, o papel da mídia ao implementar tecnologias de verificação e métodos colaborativos é central”, sintetizou Ana Carolina Kalume Maranhão – chefe do Departamento de Jornalismo da Universidade de Brasília -, a quem coube a mediação da segunda mesa-redonda.
As mesas de debate contaram com a participação do público presente, com perguntas aos debatedores, e do público on-line, que acompanhou a transmissão pelo YouTube da CLDF. A programação completa do Conecta CLDF: Comunicação 360° pode ser acessada na página do evento.
Fonte: Agência CLDF