A Comissão Parlamentar de Inquérito que investiga a poluição do Rio Melchior foi novamente a campo nesta quinta-feira (05). Desta vez, a visita técnica ocorreu na Estação de Tratamento de Esgoto Melchior, que fica em Samambaia e é administrada pela Companhia Ambiental de Saneamento do Distrito Federal (Caesb). A estação é destino para o esgoto das cidades de Taguatinga, Ceilândia, Águas Claras, Vicente Pires e Samambaia.
A presidente da comissão, deputada Paula Belmonte (Cidadania), o vice, deputado Joaquim Roriz Neto (PL) e o membro titular deputado Rogério Morro da Cruz (PRD) foram recebidos por técnicos da companhia, que detalharam o funcionamento da ETE.
Os parlamentares puderam conferir de perto a infraestrutura dos locais envolvidos no processo de tratamento da água, como as estações de tratamento preliminar, os reatores anaeróbicos, os tanques de tratamento biológico, a estrutura de adensamento e desaguamento do lodo e o emissário efluente final, local onde o esgoto tratado é despejado no Melchior.
A visita foi acompanhada por representantes de organizações civis ambientais que lutam pela revitalização do rio e por pesquisadores da Universidade de Brasília (UnB), que coletaram amostras de água em diversos estágios do tratamento para análise. Os dados das amostras coletadas serão compartilhados com a CPI para a produção do relatório final.
Efluentes
Belmonte demonstrou preocupação com relação à proporção de efluentes que são despejados no rio com relação à vasão total do corpo hídrico. Dados apresentados pela Caesb indicam que a vazão média aproximada do Melchior é de cerca de 750 litros/segundo. Já o volume de efluentes tratados despejados pela companhia é de aproximadamente 1400 litros/segundo, ou seja, quase o dobro de seu volume natural.
“Uma coisa que me preocupou muito é a questão do adensamento nessa região. O volume do rio é muito pequeno. O parâmetro do que é despejado aqui como efluente é comparável ao que é jogado no Corumbá. Há uma desproporcionalidade muito grande”, afirmou Belmonte. A deputada lembrou ainda que, além dos efluentes da Caesb, o curso de água recebe ainda efluentes do aterro sanitário de Samambaia e de abatedouros da região.
O assessor da diretoria de obras da Caesb Luiz Antônio Harada contou sobre o histórico de ampliação da infraestrutura da companhia para conseguir atender ao crescimento populacional do DF nos últimos 40 anos.
Segundo ele, áreas irregularmente ocupadas são um desafio para o saneamento, uma vez que toda a rede tem que ser implementada com moradias e malha viária já estabelecidas, o que encarece em até seis vezes os custos para os cofres públicos.
Harada deu como exemplo o caso da rápida expansão populacional do Sol Nascente, região que é atendida pela ETE Melchior e que vem exigindo grandes esforços do poder público para que a população local possa contar com água tratada. “Estamos fazendo constantemente uma série de intervenções no nosso sistema para deixá-lo mais seguro e funcional”, afirmou.
Outro ponto de questionamento feito pela deputada Belmonte e por pesquisadores é relacionado à escolha do método de tratamento utilizado na ETE. A companhia realiza o tratamento biológico de efluentes por meio do sistema “Unitank”, um processo que remove matéria orgânica e outros poluentes presentes utilizando microrganismos para degradar a poluição. O Unitank é um reator biológico aerado que permite a remoção de nitrogênio e outros contaminantes.
Foi questionado se não seria mais adequado o tratamento por osmose reversa – processo de filtragem que utiliza uma membrana semipermeável para remover impurezas, sais e contaminantes –, mas os técnicos da companhia garantiram que os protocolos adotados pela Caesb são os mais adequados para a realidade local e seguem padrões internacionais, além de estarem de acordo com as normas do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama).
O deputado Joaquim Roriz Neto afirmou que a visita foi satisfatória e que os protocolos de tratamento de efluentes apresentados pela companhia demonstram um zelo, por parte do governo, com a água que é oferecida à população. O parlamentar afirmou que é preciso que a comissão investigue as ações de governos anteriores que permitiram que o corpo hídrico chegasse à situação de poluição atual.
“O mais importante da visita é escutar os profissionais, ver os investimentos que estão sendo feitos aqui e os planejamentos futuros para melhorar ainda mais a qualidade do tratamento do esgoto. O que a gente presenciou é que temos uma qualidade de tratamento alta. Mas a pergunta que a gente deveria estar fazendo é: quando o rio entrou em risco? Qual governo pegou esse rio quando ele ainda não era de categoria de risco e fez ele virar categoria 4?”, questionou o deputado.
Dados apresentados
A Caesb apresentou um panorama atualizado da operação da Estação de Tratamento de Esgoto (ETE) Melchior. A apresentação destacou os investimentos realizados nos últimos anos, as melhorias na qualidade do esgoto tratado e os projetos em andamento para ampliar a eficiência da estação, considerada essencial para a recuperação do rio e a segurança hídrica da região.
Segundo a Caesb, o Distrito Federal já conta com 100% do esgoto coletado sendo tratado, e a ETE Melchior responde por cerca de 1.400 litros por segundo desse volume, operando próxima à capacidade de projeto (1.469 L/s). O tratamento é feito em nível terciário, com múltiplas etapas que garantem a remoção eficiente de carga orgânica e nutrientes. O efluente final é lançado no Rio Melchior, que percorre cerca de 59 km até o Lago Corumbá, importante manancial da região.
Morro da Cruz e Belmonte questionaram a informação de que há a oferta de água tratada para 100% da população, mas a companhia explicou que esse dado se refere apenas ao que é considerado como área urbana regularizada.
A companhia também destacou os avanços nos últimos cinco anos: foram mais de 250 mil metros de rede coletora implantados, mais de 23 mil novas ligações de esgoto e uma redução significativa do despejo irregular no leito do rio, com investimentos que ultrapassaram R$ 60 milhões. Além disso, a ETE conta com uma gestão sustentável de resíduos: o lodo gerado (cerca de 60 mil toneladas por ano) é 100% reutilizado na agricultura, com licenciamento ambiental.
Entre os projetos em execução estão a implantação do sistema de polimento final do efluente, orçado em R$ 40 milhões, e um robusto plano de ampliação da estação que prevê a instalação de novos reatores, decantadores e sistemas de desinfecção por ultravioleta, com orçamento estimado em R$ 300 milhões. Essas medidas visam garantir maior eficiência no tratamento e reforçar a segurança ambiental da região.
A Caesb ressaltou ainda ações educativas e de pesquisa que acompanham o trabalho técnico. Um ônibus educativo tem levado conhecimento sobre o ciclo do saneamento a escolas e comunidades, enquanto o laboratório da companhia realiza cerca de 300 mil análises por ano.
Próximos passos
As amostras de água coletadas durante a visita serão analisadas em laboratório e encaminhadas à CPI. Belmonte afirmou que vai incluir a Agência Reguladora de Águas, Energia e Saneamento Básico do Distrito Federal (Adasa), que é responsável pela fiscalização da qualidade do rio, no circuito de visitas.
“Nós vamos verificar com os técnicos e com o superintendente da Adasa como está sendo feita a fiscalização aqui no Melchior”, declarou Belmonte.
A deputada afirmou ainda que a comitiva fará uma visita a um frigorífico de grande porte que despeja efluentes no rio para avaliar como esta sendo feito o manejo dos resíduos. A próxima reunião da CPI está agendada para a próxima quinta-feira (12).
Fonte: Agência CLDF