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Cuidar, a maior missão da enfermagem na rede pública

No acolhimento, no exame de rotina, na vacina que previne e em muitas outras atividades, os enfermeiros são responsáveis por 56% dos quase três milhões de atendimentos individuais na Atenção Primária à Saúde do DF

No Distrito Federal, atuam 600 equipes de Saúde da Família (eSF) – cada uma encarregada do atendimento de até 4.000 pessoas. Em sua composição, que vai além da recomendação nacional, estão o médico, dois técnicos de enfermagem, quatro agentes comunitários e o enfermeiro. Nesta sexta-feira (12) é comemorado o Dia Internacional do Enfermeiro. Em 2022, a categoria foram responsáveis por 56% dos quase três milhões de atendimentos individuais (consultas e de urgência) na Atenção Primária à Saúde (APS) distrital. Os dados são do InfoSaúde.

Dentro do Sistema Único de Saúde (SUS), o maior e mais complexo sistema de saúde pública do mundo, há diferentes níveis de assistência. Uma delas é a APS, a porta de entrada para o atendimento.

Para que boa parte do trabalho desenvolvido pela assistência primária flua, existem as unidades básicas de saúde (UBSs), espaços dedicados a ações e atendimentos de prevenção e de promoção à saúde comunitária. Para além da assistência clínica, o foco é estar próximo às pessoas e promover a qualidade de vida da população. Essa atenção integral, que considera o cuidado sua maior missão, é característica inerente à profissão de enfermagem.

“Quando analisamos a história do SUS e do trabalho do enfermeiro, identificamos uma completa afinidade. A Estratégia de Saúde da Família existe para melhorar a saúde da comunidade sob sua responsabilidade – o que exige um olhar para o território, o ambiente e o contexto em que o indivíduo está inserido”, explica o gerente de serviços de enfermagem na APS, Ávallus André Alves Araújo.

Ávallus Araújo explica que o enfoque no cuidado sempre manteve a enfermagem em associação com a Estratégia de Saúde da Família | Fotos: Tony Winston/ Agência Saúde

Coordenação de equipe

O papel do enfermeiro transita por diversas vias. Entre elas, o acolhimento a uma família inteira: acompanha o crescimento da criança, afere a pressão do pai, aplica a vacina na avó, participa dos exames de rotina da mãe, puxa a orelha do avô que não apareceu na consulta.

Na outra ponta da rotina, está a gestão, habilidade que desponta de forma espontânea nos papéis de coordenação. O usuário assistido pela Equipe 7 (Roxa) da UBS 1 de Águas Claras, por exemplo, ao buscar o primeiro atendimento, além do cadastro regular nos sistemas oficiais, tem também os seus dados incluídos em uma planilha própria. Assim, o enfermeiro Edmon Martins Pereira consegue estruturar o perfil populacional e monitorar as demandas previsíveis de cada uma das mais de três mil pessoas atendidas pela equipe.

Um grupo na rede WhatsApp – criado pelo enfermeiro para abrigar toda a comunidade – contribui para o esclarecimento de dúvidas e apresentação de informações sobre a rotina e os eventos da UBS. “Por esse meio, a equipe consegue sanar boa parte das questões apresentadas pela população. Estando bem-informada, às vezes a pessoa sequer precisa vir até a unidade”, explica Edmon.

Para ele, nem sempre é necessário ao paciente procurar o atendimento no hospital. “Se ele chegou lá, alguma falha minha existiu. Sou eu quem deve encaminhá-lo para a assistência hospitalar – e apenas quando não consigo resolver a demanda na unidade”, complementa. No último ano, a equipe do enfermeiro foi a que atendeu ao menor número de demandas espontâneas da UBS 1 de Águas Claras.

A população atendida pelo Serviço de Acolhimento Institucional para Adultos e Famílias (Saif) do Areal faz parte do território assistido pela equipe multiprofissional. Assim que passou a trabalhar na unidade, em dezembro de 2019, Edmon empreendeu a instalação de um consultório dentro do estabelecimento de assistência social. A população vulnerável, com dificuldade de adesão aos cuidados prestados na UBS, possui, desde o início de 2020, um espaço próprio para exames e consultas com a equipe de saúde. “O atendimento, sendo prestado aqui no consultório ou lá na UBS, é sempre de ótima qualidade. Sempre que nos encontramos, um simples cumprimento já faz toda a diferença”, atesta Waldemir José Braga de Souza, morador do Saif Areal.

O enfermeiro Edmon Pereira monitora de perto os mais de 3.000 pacientes que atende na UBS 1 de Águas Claras

Vínculo e capacidade de iniciativa

Entre a grande variedade de cenários em que o profissional de enfermagem da atenção primária trabalha, a zona rural apresenta uma realidade particular. A enfermeira Carine Quadros de Melo atua desde 2014 junto à população da Fercal – situada às margens da Área de Proteção Ambiental (APA) Cafuringa. É tempo suficiente para que ela tenha participação efetiva na história da comunidade.

“Ela acompanhou minha primeira gravidez em 2017, na UBS 2, do pré-natal até os anos iniciais de crescimento do meu filho. Na gestação seguinte,que apresentava risco, foi ela que também me recebeu na UBS 3 e esteve presente durante todo o processo”, conta Cleidiane da Silva da Cruz, mãe de Murilo e Benício. “Posso dizer que a enfermeira Carine faz parte da minha vida e da minha família. Eu tenho plena confiança em tudo o que ela faz.”

Recentemente, a enfermeira comprou um chip telefônico para melhorar o contato direto com os pacientes. Além disso, com o intuito de expandir o leque de serviços à comunidade, Carine se organizou com a equipe para fim de coletar material para exames laboratoriais. Em um acordo com o Hospital de Sobradinho (a 10 km da UBS), as amostras são recolhidas semanalmente, às quintas-feiras, para análise clínica. “Qualquer coisa que a gente consiga para aprimorar o dia a dia da assistência é uma grande vitória. Enche-me de orgulho ser enfermeira e poder contribuir diretamente para a melhoria da vida das pessoas”, afirma Carine.

A enfermeira Carine de Melo acompanhou a gestação e crescimento dos dois filhos de Claudiane da Cruz

Olhar sistêmico e afetivo

A relação de proximidade com o paciente exige da enfermagem atenção e zelo. Além do cumprimento do calendário vacinal, a equipe de imunização de que participa a enfermeira Gabriela Barasuol, da UBS 3 do Guará 2, busca informar e atender as mais diversas queixas da população. “A cada dia, a comunidade demonstra essa necessidade de instrução. Normalmente, quem chega aqui busca uma vacina específica. Nós conferimos e, se for o caso, oferecemos também outra que esteja liberada para a pessoa. Trata-se não só de dar aquilo que ela vem procurar; mas também estar atenta a tudo que pode ser ofertado ao usuário do serviço”, assegura a profissional.

A equipe da sala de vacina da UBS 3 do Guará 2 conta com a contribuição de duas técnicas de enfermagem. Ellen Gonçalves de Carvalho é uma delas e dedica-se há 12 anos à imunização. Nessa trajetória, entre as várias melhorias no serviço, a presença obrigatória do enfermeiro como responsável técnico na sala de vacina recebe destaque. “Hoje, conseguimos manter uma relação direta com a farmácia. Com isso, aumentamos a possibilidade de atender ao usuário e apresentar soluções aqui mesmo. Nós e o serviço ganhamos muito com essa autonomia profissional”, destaca.

A autonomia profissional favorece o trabalho em equipe da enfermeira Gabriela Barasuol e da técnica de enfermagem Ellen de Carvalho

Inspirar para transformar

A competência e a presteza manifestada em serviço pelos profissionais da enfermagem inspiram os colegas que atuam ao redor. “São pessoas com essa vontade e determinação, que fazem a diferença, que nos fazem seguir firmes e confiantes nesse trabalho de construção do SUS”,, diz a supervisora de Serviços de Atenção Primária da  Gestores dos Serviços de Atenção Primária à Saúde (Gsap) 01 de Águas Claras, Wânia Lúcia Gomes, entusiasmada pelo bom desempenho da Equipe 7, da qual faz parte o enfermeiro Edmon Pereira.

Todo enfermeiro, cada um de acordo com as especificidades do seu cenário de atuação, desempenha atividades gerenciais, zelando pela comunidade em que trabalha. “O profissional da enfermagem é esse que busca algo a mais. Ele quer fazer a diferença, transformar a realidade. A intenção não é unicamente ‘tratar a doença’ e dispensar o paciente. Busca-se, por meio do vínculo, melhorar todas as condições comunitárias que favoreçam ao indivíduo o pleno progresso em saúde”, resume o gerente Ávallus Araújo.

*Com informações da Secretaria de Saúde

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