Nesta segunda-feira (6), o plenário da Câmara Legislativa se transformou em palco de celebração: uma sessão solene homenageou os 25 anos da pedagogia Waldorf em Brasília — uma abordagem educacional que vê a criança como um ser em constante florescimento, cultivando saberes com arte, afeto e liberdade. Inspirada na Antroposofia de Rudolf Steiner, a Waldorf propõe uma educação integral, contemplando o desenvolvimento físico, emocional, intelectual e espiritual do ser humano.
A homenagem foi proposta pelo presidente da Comissão de Educação e Cultura (CEC), deputado Gabriel Magno (PT). O parlamentar ressaltou o impacto positivo da pedagogia na educação do DF, destacando que a filosofia – hoje presente em escolas públicas e privadas – estimula diversas virtudes em seus alunos.
“Eles nos mostram que a escola também é lugar da diversidade, da democracia e da participação. A pedagogia Waldorf é muito engajada nesse processo”, ressaltou o distrital.
Para Karla Neves, representante do Seminário Waldorf de Brasília, a filosofia de ensino surge como resposta à necessidade de se formar uma sociedade mais saudável em múltiplos aspectos. Ela classifica a implementação da metodologia na capital federal como um “impulso de amor que chegou ao cerrado” e destaca que tiveram que enfrentar muitas barreiras no início por conta do desconhecimento e do preconceito de parte da população e do poder público.
“Para conseguir chegar aonde chegamos, contamos com a ajuda de muitas mãos amorosas e muitos corações calorosos. Muitas mãos que queriam um caminho escolar permeado de vida e de significado, de interesse e anseio por aprender”, avalia.
A deputada federal por Brasília Erika Kokay (PT) ressaltou que a pedagogia Waldorf lida com todas as dimensões e todas as inteligências que o ser humano carrega. “Ela trabalha com um respeito muito profundo às singularidades, porque somos seres únicos e, ao mesmo tempo, nos ensina que somos iguais em dignidade e em direitos”, destacou a parlamentar.
Uma pedagogia que inspira
Representando a Escola Waldorf Moara, Sandra Maria falou sobre a importância de uma pedagogia livre, que amplia e diversifica o olhar para a educação do ser humano. A educadora frisou ainda que as instituições não têm fins lucrativos.
“A gente busca um ambiente propício e inspirador no qual os indivíduos possam contemplar o mundo agindo, sentindo e pensando com bondade, beleza e verdade”, afirmou.
Um dos protagonistas da pedagogia no DF é o movimento Txai, uma iniciativa educacional formada por um grupo de professoras da rede pública que implementou os princípios da pedagogia Waldorf nas escolas públicas, especialmente na educação infantil.
A coordenadora-geral do Movimento Txai, Luana Angélica, contou que o grupo foi criado para a realização de um sonho: levar os benefícios da filosofia Waldorf para as crianças e famílias em vulnerabilidade social.
“Para sermos seres humanos plenos, teremos que acabar com o abismo social que existe no Brasil e enxergarmos a metade da população que ainda não têm uma educação digna. Isso é ser Txai”, declarou.
Já a representante da Confederação Nacional de Trabalhadores em Educação (CNTE), Rosilene Lima, enxerga na pedagogia Waldorf uma importante ferramenta para que a sociedade aprenda a ser mais tolerante.
“No mundo atual, em que temos que lidar com as intolerâncias, mais que nunca a gente precisa de uma educação que enxergue cada um dos alunos, mas que trabalhe para que esse aluno respeite e conviva com o todo. Somos seres individuais com particularidades, mas não podemos transformar individualismo em egoísmo”, destacou.

A fundadora da Escola Waldorf Rural Pequizeiro, Máira Sokolowski, pontuou que a filosofia chegou ao DF para “formar seres humanos livres, conscientes e socialmente responsáveis”. Para ela, o coletivo de professores que se dedica diariamente a promover uma educação mais lúdica, inclusiva e afetuosa nas escolas Waldorf merecem o reconhecimento pelos 25 anos da pedagogia na capital.
“A Waldof é uma educação que exige mais que conhecimento técnico, também presença, escuta, coragem, arte e amor. E são os professores que, no dia a dia, tornam esses princípios realidade em nossas salas de aula”, elogiou.
Ian Tostes, aluno da Escola Moara, revelou que criou no ambiente escolar alguns dos vínculos mais fortes que tem na vida. Segundo ele, isso se deu em razão do espírito de humanidade e respeito que é incentivado.
“A escola Waldorf, por conta das experiências únicas, moldou grande parte do ser humano que sou hoje. A Moara me ensinou que o futuro é importante, pois não podemos pensar somente no agora. Mas ensinou também que a vida é vivida em partes. Por isso não devo deixar de rir e me divertir agora porque estou ocupado demais pensando na função que vou exercer depois da faculdade”, declarou emocionado.
A cerimônia foi coroada com apresentações artísticas do corpo docente das escolas e dos alunos. A solenidade completa pode ser assistida na íntegra pelo YouTube da CLDF.

Histórico
A Waldorf é uma abordagem educacional criada em 1919 pelo filósofo austríaco Rudolf Steiner, fundamentada na Antroposofia — uma ciência espiritual que busca compreender o ser humano em sua totalidade. Na prática, essa pedagogia propõe uma educação integral, que respeita os ritmos de desenvolvimento físico, emocional, intelectual e espiritual da criança. Em vez de focar apenas em conteúdos acadêmicos, a Waldorf valoriza a arte, o brincar, a natureza e a vivência como caminhos para o aprendizado, formando indivíduos mais conscientes, criativos e empáticos.
No Distrito Federal, o movimento Waldorf começou a ganhar forma em 1991, por meio de grupos de estudo formados por educadores e famílias interessados em uma educação mais humanizada. Esse esforço culminou na fundação da primeira escola Waldorf de Brasília em 2000, marcando o início de uma trajetória que hoje se estende por instituições privadas, comunitárias e até projetos dentro da rede pública. Um exemplo é o Movimento Txai, que desde 2018 atua na Escola Classe Beija-Flor, promovendo formações, palestras e práticas pedagógicas inspiradas na Waldorf, com foco na educação infantil.
Ao longo desses 25 anos, a pedagogia Waldorf no DF tem se consolidado como uma alternativa que desafia os modelos tradicionais e propõe uma escola onde o conhecimento é cultivado com afeto, beleza e propósito.
Fonte: Agência CLDF